A dor musculosquelética é uma das principais causas de absentismo. E se lhe dissessem que uma das formas de diminuir a dor pode ser, precisamente, regressar ao trabalho? Um estudo publicado em 2018, por Shaw e colegas, dividiu os trabalhadores com dor em 3 grupos – retorno imediato ao trabalho (0 dias perdidos); retorno precoce (1 a 7 dias); retorno tardio (> 7 dias). Este estudo revelou que os níveis de dor e funcionalidade melhoraram mais rapidamente nos trabalhadores com retorno imediato ou precoce ao trabalho.
A incapacidade de trabalhar pode contribuir para a pobreza, através da diminuição dos rendimentos. Além disso, a perda do emprego pode contribuir para a alteração da autoestima, distúrbios psicológicos e exclusão social.
Há forte evidência de que as faltas e invalidez (a longo prazo) por doença dependem mais de fatores psicossociais individuais e relacionados com o trabalho do que de fatores relacionados com o corpo da pessoa ou com a exigência física do trabalho. Isto quer dizer que a existência de um mau ambiente de trabalho ou o facto de sentir pouco apoio por parte da chefia ou dos colegas podem contribuir mais para o absentismo do que o esforço físico que tem de realizar durante o horário de trabalho.
A evidência científica mais recente preconiza a diminuição da inatividade e o aumento gradual dos níveis de atividade física e enfatiza o conselho para permanecer no trabalho ou retornar o mais rápido possível, com o objetivo de melhorar os níveis de dor, qualidade de vida e bem-estar.
E o leitor pensa: “Mas se estou com dor e vou voltar ao trabalho, vou estragar ainda mais!” É importante sublinhar que a atividade física e as intervenções de retorno precoce ao trabalho não parecem estar associadas a qualquer risco aumentado de recorrências ou ausência por doença adicional.
O fisioterapeuta, através da exposição gradual às atividades, pode ajudá-lo a retornar ao trabalho com mais segurança. Adicionalmente, podem ser necessárias algumas medidas de integração, como o trabalho temporário modificado ou a retoma progressiva. Torna-se, assim, importante a comunicação entre trabalhador, profissional de saúde e local de trabalho, uma vez que pode facilitar o retorno sustentado ao trabalho.
Este texto aborda as linhas orientadoras de um artigo científico que descreve 11 recomendações pelas quais se deve reger a prática clínica de um fisioterapeuta. Esta é a décima primeira recomendação: facilitar a continuação ou retomar do trabalho.
Emanuel Heleno e José Lopes
Fisioterapeutas
ESPAÇO P | SAÚDE E BEM-ESTAR