As técnicas de terapia manual são tão antigas como a própria Fisioterapia. No entanto, isso não significa que esta deva basear-se apenas em terapia manual. Pelo contrário…
A evidência científica atual recomenda que a terapia manual não deve ser empregue de forma isolada e que a sua utilização deve ser aliada a outras formas de tratamento com maior nível de evidência, como a educação e o exercício, uma vez que estes parecem trazer maiores benefícios.
Mas quem não gosta de receber uma massagem ou uma sessão de terapia manual? Imagine que vai ao cabeleireiro para cortar o cabelo, mas chega lá e faz apenas a lavagem – a parte mais agradável. Ora, apesar de sair de lá a sentir-se melhor, o cabelo continua do mesmo tamanho e, uns dias depois, terá que voltar.
Um dos riscos de o/a fisioterapeuta se basear maioritariamente em técnicas de terapia manual é o de provocar uma desresponsabilização por parte do/a utente, achando que apenas com técnicas passivas irá ver o seu problema resolvido, quando o objetivo deve ser precisamente o oposto: fornecer ferramentas de autogestão, para que este/a consiga gerir a sua condição de forma cada vez mais autónoma.
Outro dos riscos de a intervenção do/a fisioterapeuta se focar apenas na terapia manual é o de levar as pessoas a acreditar que há algo de errado com elas e que precisam que este profissional lhes corrija o problema. Felizmente, o corpo humano é robusto e nem o/a fisioterapeuta, nem ninguém, tem a capacidade de corrigir ou alinhar estruturas com as suas mãos. O que este profissional pode fazer, através da terapia manual, é deixar a pessoa mais confortável, mais relaxada e induzir uma diminuição imediata e simplesmente temporária dos sintomas.
Respondendo à questão que nos trouxe até aqui, as mãos do/a fisioterapeuta podem desempenhar um papel relevante e a terapia manual pode ser um coadjuvante na diminuição temporária de sintomas, como a dor, sendo uma estratégia a ter em conta, nomeadamente se a sua utilização preceder o uso de ferramentas mais ativas como o movimento e o exercício. Ainda assim, a criação de empatia, a capacidade de comunicação e o raciocínio clínico são, sem dúvida, ferramentas mais importantes.
Este texto aborda as linhas orientadoras de um artigo científico que descreve 11 recomendações pelas quais se deve reger a prática clínica de um(a) fisioterapeuta. Esta é a nona recomendação: aplicar terapia manual apenas como adjuvante de outros tratamentos baseados em evidência.
Emanuel Heleno e José Lopes
Fisioterapeutas
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