Por conta da guerra, já saíram da Ucrânia mais de um milhão de ucranianos. São pessoas que fogem da crueldade humana e, com o pouco que conseguem colocar dentro da mala, procuram refúgio e segurança noutros países. Todos os dias chegam a Portugal dezenas de refugiados e é importante garantir que têm todo o apoio necessário, incluindo na alimentação.
Em 2015, o Programa Nacional para a Promoção de uma Alimentação Saudável, publicou um manual com linhas orientadoras para a receção de refugiados. O manual intitulado “Acolhimento de refugiados: Alimentação e Necessidades Nutricionais em Situações de Emergência” está disponível em português e inglês e pode ser consultado por todos livremente.
O apoio está dividido em três fases: fase inicial de acolhimento, fase de adaptação e fase de estabilização. Na fase inicial, o principal objetivo é garantir as necessidades nutricionais básicas dos indivíduos, com especial atenção para grupos de risco (crianças, grávidas e idosos) e sempre com o cuidado de respeitar a sua origem cultural e religiosa. Perguntar sobre as preferências alimentares para decidir quais os alimentos a fornecer, aumenta não só o grau de aceitação, bem como o conforto das pessoas. A segunda fase, passa por melhorar a oferta alimentar em qualidade, variabilidade e adequação cultural. Na última fase, o objetivo é monitorizar o estado nutricional e de saúde e garantir que o apoio alimentar existe, caso seja necessário.
Nestes momentos, torna-se ainda mais fácil perceber que a comida é mais do que um conjunto de nutrientes. A comida faz parte da nossa história individual, da nossa identidade enquanto comunidade e da nossa cultura. Nem o facto de a globalização alimentar estar cada vez mais presente, já que é fácil e comum ter acesso a alimentos e pratos típicos de outros países, irá extinguir isso. Pergunto-me se esta abertura para experimentar receitas de diferentes culturas, poderá também refletir uma maior tolerância para com as diferenças do outro. Quero acreditar que sim!
A comida é uma forma de nos darmos a conhecer e de conhecermos o outro. Para um português, experimentar a típica sopa ucraniana Borsch, ou os pratos típicos Varennuku e Banush, é explorar novos sabores e descobrir mais sobre a Ucrânia. Para um ucraniano fora do seu país, é ter na boca o sabor de casa. Os ucranianos podem estar a ser obrigados a sair do seu país, mas o seu país não sairá deles. A comida é, e será sempre, uma forma de ligação à nossa terra do coração.
Rute Domingues
Nutricionista (C.P. 2144N)
Espaço P