Enquanto sociedade, deparamo-nos com uma ideia implícita de que sentir pode ser errado ou perigoso. Principalmente quando falamos de emoções menos agradáveis – como a tristeza, a zanga ou o medo. E principalmente quando, perante a emoção do outro, sentimos a necessidade de o retirar desse lugar.
É difícil vermos alguém sofrer e mais difícil pode ser a ideia de não termos uma “solução” para esse sofrimento. É aqui que surgem palavras como “não podes ficar assim”, “não precisas de chorar”, “pensa noutra coisa”. Ainda que inconscientemente, estas palavras acabam muitas vezes por ser ditas para acalmar a nossa sensação de impotência. São palavras de fuga à emoção, àquilo que pode ser difícil de suportar.
A questão é que frequentemente, aquilo que acontece na relação com as emoções dos outros é um reflexo da forma como nos relacionamos com as nossas próprias emoções. E neste sentido, a luta contra as emoções não permite contemplar a função necessária que elas têm na nossa vida – por exemplo, a zanga ajuda-me a perceber que existem limites meus que estão a ser ultrapassados e a ansiedade pode refletir a importância que determinado objetivo tem para mim. O que pode então acontecer se dermos espaço ao que sentimos? Será que podemos compreender melhor o porquê da emoção que está a surgir? E a partir dessa compreensão mais alargada, será possível reagir de formas diferentes? Talvez a questão não esteja tanto no que sentimos, mas sim no que fazemos com o que sentimos. Não entrar em contacto com as emoções não nos torna mais funcionais, pelo contrário, vem reforçar a nossa perceção de incapacidade. Por outro lado, ao olharmos para as emoções “de frente”, podemos aprender novas formas de pensar sobre elas e ganhar um leque mais alargado de respostas.
Sentir ou não sentir não deve ser uma questão porque a nossa natureza humana vive (também) das emoções – a questão reside em como cuidamos delas, tal como cuidamos da nossa dimensão física. Conhecendo o seu histórico, reconhecendo os padrões e comportamentos que mais e menos nos ajudam e identificando quando a intensidade e duração da experiência emocional podem estar a ter um impacto disfuncional nos nossos contextos.
Carolina Madaíl
Psicóloga
ESPAÇO P | SAÚDE E BEM-ESTAR